Infelizmente, em pleno século XXI ainda existe uma turma dentro de nossas igrejas que se manifesta contra o estudo secular e a busca pelo conhecimento. Em alguns lugares, o cristão estudioso é tido como rebelde, frio, calculista, modernista, liberal e inveterado insurgente. James Sire chama isso de versão popular do intelectual.
De modo recorrente é dito que a igreja não precisa de mais conhecimento ou de doutores, já que historicamente ela foi levada adiante por pessoas que nunca estudaram, e que, portanto, a intelectualidade é desnecessária e sobretudo perigosa.
E alguns, para fundamentar, lançam mão do texto de II Cor. 3.6: “… porque a letra mata e o espírito vivifica”.
É um erro grosseiro de interpretação dizer que a palavra “letra” no texto de II Cor. 3.6 esteja se referindo ao conhecimento. Não é preciso muito conhecimento teológico para se depreender do texto sob análise que Paulo está fazendo referência à letra da lei, e não ao conhecimento. Veja-se que o capítulo em que o versículo está inserido tem como tema principal a diferença entre o ministério do Antigo e do Novo Testamento, fato este que pode ser plenamente verificado nos versículos posteriores, onde Paulo escreve: “O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas este ministério veio com glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por causa do resplendor de seu rosto, ainda que desvanecente” v. 7 – NVI
A infeliz verdade é que ainda existe um pensamento de anti-intelectualismo dentro de alguns círculos religiosos. O escritor Os Guinnes chama isso de hedonismo mental. Já John Stott denomina de cristianismo de mente vazia.
De fato, a Bíblia alerta sobre o perigo da arrogância do conhecimento e da sabedoria carnal (II Co. 1.12). Todavia, é preciso ressaltar que a arrogância atinge não somente os estudiosos, mas também aqueles que não buscam conhecimento. E o que existe de crente que se arroga da sua própria ignorância não está escrito, como se no céu fossem receber de Deus uma coroa pela burrice exercida na terra.
A Bíblia diz: “O coração do entendido adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios busca a sabedoria.(Pv. 18.15)
Não quero com isso dizer que o cristão intelectual é superior ou inferir àquele que não aprecia o estudo ou a leitura. Não, não e não!
Quero simplesmente ressaltar que a vida intelectual não é sinônimo de arrogância ou de desvio doutrinário, e que tanto estudioso quanto não estudioso estão sujeitos aos mesmos erros. É claro que a vida cristã não pode pautar-se jamais pelo grau de conhecimento que possuímos, mas sim pela dependência plena à Cristo.
Como escreveu Paulo: “A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder; para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (I Co. 2:5,6).
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