quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Concílio de Nicéia e a Heresia Ariana



O século quarto deu início ao período em que a Igreja começou a delinear a manifestação de sua crença, tal como é até os dias de hoje. Este processo se deu através da superação de várias divergências teológicas. Nos séculos anteriores, como já dissemos aqui, Jesus Cristo era o assunto fundamental do pensamento da Igreja, como deveria ter sido sempre.

Com a ascensão de Constantino, que como também já dissemos decidiu se “apropriar” do cristianismo, sustentando seus templos e seus bispos financeiramente, em troca de interferir nas decisões da recém criada Igreja Católica, o palco estava pronto para uma série de conflitos teológicos que duraria do quarto até o oitavo século.

A primeira destas grandes controvérsias se deu em torno da doutrina da Trindade. As discussões concernentes à natureza de Cristo tomavam corpo nas Igrejas do mundo todo, particularmente nas do oriente, que influenciadas pela cultura grega possuíam um interesse profundo pelas questões doutrinárias.

Ainda no princípio deste século quarto, o Presbítero Ário de Alexandria criou uma teoria segundo a qual Jesus Cristo não era nem homem nem Deus, mas um ser intermediário que era superior aos homens e inferior ao Deus Pai. Desta forma, Cristo não poderia ser eterno, já que tendo sido gerado pelo Pai em uma época determinada havia existido um tempo em que Jesus não existia. Ao mesmo tempo afirmava que Deus seria um grande e eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si mesmo. Com esta linha de pensamento, o historiador H. M. Gwatkin afirmou em seu livro The Arian Controversy (A Disputa Ariana): “O Deus de Ário é um Deus desconhecido, cujo ser se acha oculto em eterno mistério.

O arianismo enveredou pelo caminho do engano ao interpretar erroneamente algumas passagens bíblicas que demonstravam as qualidades humanas de Jesus, como o cansaço (Jo 4.6) e também por não conseguir compreender a relação triuna do Deus Filho Jesus com o Deus Pai, como quando Ele alega não saber a data de seu retorno (Mt 24.36).

Jesus era completamente Deus, mas Ele também era completamente humano. Jesus não se tornou um ser humano até a sua encarnação. Portanto, as limitações de Jesus como um ser humano não têm nenhum impacto em sua natureza divina ou em sua existência eterna. Outro erro grave de sua interpretação bíblica está no significado que dava ao termo “primogênito” (Rm 8.29, Cl 1.15-20).

A interpretação dos arianos para o termo primogênito nestes versículos defende que este termo tinha o mesmo significado de quando trata dos primogênitos humanos. Desta forma, acreditavam que Jesus “nasceu” ou foi “criado” como o primeiro ato de Criação. Contudo, a expressão utilizada aqui serve como a antropopatia que também é largamente utilizada nas Escrituras: serve para dar a uma realidade espiritual um sentido que o homem possa compreender. Jesus mesmo proclamou sua auto-existência e sua eternidade (Jo 8:58, 10:30). A Bíblia nos diz que Jesus “estava com Deus” (Jo 1.1-2). O filho primogênito de uma família ocupava nos tempos bíblicos uma posição de grande honra e destaque, e seria o sucessor e herdeiro dos bens e da autoridade familiar de seu pai. (Gn 49.3, Êx 11.5, 34.19, Nm 3.40, Sl 89.27, Jr 31.9). Assim também é que Jesus é o primogênito de Deus. Jesus é o membro mais honrado e destacado da família de Deus. Jesus é o ungido, o “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). O arianismo teve muita força entre os visigodos espanhóis. O rei Leovigildo mandou executar o próprio filho, Hermenegildo, por este ter negado sua fé ariana.

O Concílio de Níceia

Para resolver a controvérsia entre Alexandre e Ário, Constantino, então auto-proclamado “patrono da igreja” convocou este que foi o primeiro Concílio Geral da Igreja, realizado na cidade de Nicéia na Ásia Menor e que reuniu 318 bispos por um período de três meses, no ano de 325.

Este concílio teve claras duas posições diametralmente opostas: Segundo Ário, presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno não gerado. O Logos, o Cristo preexistente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existiria. O Cristo existiria num tempo anterior à nossa existência temporal, mas não era eterno. Em oposição a Ário se colocaram Alexandre e Atanásio que afirmava que o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em Jesus. Segundo sua brilhante defesa da trindade:

“Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai estaria com o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho.”

Atanásio acabou por conseguir uma grande vitória neste concílio que terminou por declarar a divindade de Cristo, que, conforme concluiu o Concílio, “era da mesma substância do Pai”. Uma característica marcante deste concílio foi a de que a maioria de seus bispos eram pastores, e não teólogos. Esta característica acabou por ajudar na defesa de Atanásio, que apelou para a fé dos bispos ali reunidos, fé esta que era resultado de sua experiência cristã. Ao final do concílio, a cristologia equivocada de Ário foi rejeitada em Nicéia. O seguinte credo da Igreja surgiu deste concílio:

“um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do pai, unigênito da essência do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra; o qual, por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e encarnou e foi feito homem todos os que dizem que houve um tempo que ele não existiu, ou que não existiu antes de ser feito, e que foi feito do nada ou de alguma outra substância ou coisa, ou que o Filho de Deus é criado ou mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja”.

Fonte: palavraqueliberta

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