O
século quarto deu início ao período em que a Igreja começou a delinear a
manifestação de sua crença, tal como é até os dias de hoje. Este processo se
deu através da superação de várias divergências teológicas. Nos séculos
anteriores, como já dissemos aqui, Jesus Cristo era o assunto fundamental do
pensamento da Igreja, como deveria ter sido sempre.
Com
a ascensão de Constantino, que como também já dissemos decidiu se “apropriar”
do cristianismo, sustentando seus templos e seus bispos financeiramente, em troca
de interferir nas decisões da recém criada Igreja Católica, o palco estava
pronto para uma série de conflitos teológicos que duraria do quarto até o
oitavo século.
A
primeira destas grandes controvérsias se deu em torno da doutrina da Trindade.
As discussões concernentes à natureza de Cristo tomavam corpo nas Igrejas do
mundo todo, particularmente nas do oriente, que influenciadas pela cultura
grega possuíam um interesse profundo pelas questões doutrinárias.
Ainda
no princípio deste século quarto, o Presbítero Ário de Alexandria criou uma
teoria segundo a qual Jesus Cristo não era nem homem nem Deus, mas um ser
intermediário que era superior aos homens e inferior ao Deus Pai. Desta forma,
Cristo não poderia ser eterno, já que tendo sido gerado pelo Pai em uma época
determinada havia existido um tempo em que Jesus não existia. Ao mesmo tempo
afirmava que Deus seria um grande e eterno mistério, oculto em si mesmo, e que
nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si
mesmo. Com esta linha de pensamento, o historiador H. M. Gwatkin afirmou em seu
livro The Arian Controversy (A Disputa Ariana): “O Deus de Ário é um Deus
desconhecido, cujo ser se acha oculto em eterno mistério.
O
arianismo enveredou pelo caminho do engano ao interpretar erroneamente algumas
passagens bíblicas que demonstravam as qualidades humanas de Jesus, como o
cansaço (Jo 4.6) e também por não conseguir compreender a relação triuna do
Deus Filho Jesus com o Deus Pai, como quando Ele alega não saber a data de seu retorno
(Mt 24.36).
Jesus
era completamente Deus, mas Ele também era completamente humano. Jesus não se
tornou um ser humano até a sua encarnação. Portanto, as limitações de Jesus
como um ser humano não têm nenhum impacto em sua natureza divina ou em sua existência
eterna. Outro erro grave de sua interpretação bíblica está no significado que
dava ao termo “primogênito” (Rm 8.29, Cl 1.15-20).
A
interpretação dos arianos para o termo primogênito nestes versículos defende
que este termo tinha o mesmo significado de quando trata dos primogênitos
humanos. Desta forma, acreditavam que Jesus “nasceu” ou foi “criado” como o
primeiro ato de Criação. Contudo, a expressão utilizada aqui serve como a
antropopatia que também é largamente utilizada nas Escrituras: serve para dar a
uma realidade espiritual um sentido que o homem possa compreender. Jesus mesmo
proclamou sua auto-existência e sua eternidade (Jo 8:58, 10:30). A Bíblia nos
diz que Jesus “estava com Deus” (Jo 1.1-2). O filho primogênito de uma família
ocupava nos tempos bíblicos uma posição de grande honra e destaque, e seria o
sucessor e herdeiro dos bens e da autoridade familiar de seu pai. (Gn 49.3, Êx
11.5, 34.19, Nm 3.40, Sl 89.27, Jr 31.9). Assim também é que Jesus é o
primogênito de Deus. Jesus é o membro mais honrado e destacado da família de
Deus. Jesus é o ungido, o “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). O arianismo teve muita força entre
os visigodos espanhóis. O rei Leovigildo mandou executar o próprio filho,
Hermenegildo, por este ter negado sua fé ariana.
O Concílio de Níceia
Para
resolver a controvérsia entre Alexandre e Ário, Constantino, então
auto-proclamado “patrono da igreja” convocou este que foi o primeiro Concílio
Geral da Igreja, realizado na cidade de Nicéia na Ásia Menor e que reuniu 318
bispos por um período de três meses, no ano de 325.
Este
concílio teve claras duas posições diametralmente opostas: Segundo Ário,
presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno não gerado. O Logos, o
Cristo preexistente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre
existiria. O Cristo existiria num tempo anterior à nossa existência temporal,
mas não era eterno. Em oposição a Ário se colocaram Alexandre e Atanásio que
afirmava que o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em Jesus.
Segundo sua brilhante defesa da trindade:
“Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido
começo e o Pai estaria com o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho
eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho.”
Atanásio
acabou por conseguir uma grande vitória neste concílio que terminou por
declarar a divindade de Cristo, que, conforme concluiu o Concílio, “era da
mesma substância do Pai”. Uma característica marcante deste concílio foi a de
que a maioria de seus bispos eram pastores, e não teólogos. Esta característica
acabou por ajudar na defesa de Atanásio, que apelou para a fé dos bispos ali
reunidos, fé esta que era resultado de sua experiência cristã. Ao final do concílio,
a cristologia equivocada de Ário foi rejeitada em Nicéia. O seguinte credo da
Igreja surgiu deste concílio:
“um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do pai, unigênito da
essência do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus,
gerado não feito, consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram
feitas no céu e na terra; o qual, por nós homens e pela nossa salvação desceu
do céu e encarnou e foi feito homem todos os que dizem que houve um tempo que
ele não existiu, ou que não existiu antes de ser feito, e que foi feito do nada
ou de alguma outra substância ou coisa, ou que o Filho de Deus é criado ou
mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja”.
Fonte: palavraqueliberta
http://www.youtube.com/watch?v=5EwdYU3Ocmo&feature=youtu.be
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