sábado, 28 de agosto de 2010

Exigência dos pais não pode tirar espontaneidade dos filhos

Algumas pessoas são tão exigentes que parecem nunca encontrar algo que realmente as satisfaçam. Criam um código de regras como se fossem universais. Aquilo que pensam e apreciam, nos diversos aspectos da vida, é para elas (e para os outros) o óbvio de como as coisas têm que ser. De tão convictas na defesa de suas idéias, fica difícil questionar a posição que tomam.Entre elas, existem as que se cobram demais. Estão sempre em busca de normas de conduta para auxiliá-las em seus passos na vida, de modo a garantir o bom desempenho naquilo que fazem. Só que ninguém nunca ouviu falar. Elas não existem. Geralmente, são pessoas muito inseguras, que não conseguem ser elas mesmas e fantasiam haver um jeito único de agir nos diferentes momentos da vida. Veem o mundo de maneira estática. No fundo, não confiam nelas próprias, com sua capacidade de resolver problemas e situações no aqui e agora.

Há outras que projetam toda sua rigidez em seus semelhantes. Consideram-se acima de qualquer suspeita. Permitem-se pequenos (e grandes) deslizes, percebidos pelos outros como uma traquinagem inocente de sua parte. Suas desculpas são sempre esfarrapadas – para variar, sempre o outro é o culpado.
É claro que ter um padrão alto para as coisas não é algo necessariamente ruim. Pelo contrário. Isso pode nos impulsionar a ir em frente, crescer, desenvolver, buscar. Mas quando esse comportamento se torna algo exacerbado, pode prejudicar tanto a pessoa em questão quanto aquelas que convivem com ela – principalmente seus familiares.

Pessoas assim estão sempre se frustrando, pois nunca alcançam o ideal, que como o nome diz, existe apenas no plano das idéias. Quando isso se refere à criação dos filhos, as coisas podem se complicar: aquele ser criado por ela, idealizado em todos os sentidos, passa longe do seu plano prévio. É a lembrança constante da imperfeição do mundo e do ser humano. E de si mesma.

Assim, acabam criando o filho impedindo-o de ser ele próprio. Qualquer manifestação de sua humanidade lhe soa como uma provocação. Mesmo que isso seja apenas a expressão de sua felicidade.

Sem espontaneidade
O filho, por sua vez, fica meio perdido em como deve agir. Afinal, não é tarefa simples para ninguém saber o que o outro quer e muito menos deixar de ser o que realmente se é.
Aos poucos, a própria criança ou adolescente começa a achar que não vale muita coisa. Tudo que faz é questionável. Nunca nada está bom.

Com certeza, pais assim agem de modo a querer ajudar os filhos. Desejam que sejam boas pessoas. Só que esse conceito é variável. O que é bom para um pode parecer uma tortura para o outro. Como, por exemplo, permanecer mudo durante um jantar em família.

Quer coisa mais gostosa que uma família, nos dias de hoje, reunir-se para compartilhar uma refeição? As crianças costumam achar isso o máximo e deixam toda sua alegria a vista. Falam, riem, movimentam-se e pouco comem. Para muitos, isso nada mais é que pura falta de educação. A confusão está armada: os pais ralham com os filhos, esses se entristecem e aquele que ia ser um jantar memorável se transforma num momento de infelicidade para todos.

Os pais, por não terem os filhos que esperaram; esses, por sua vez, sentem isso – nunca conseguem agradar os pais. Aos poucos, toda a espontaneidade deles vai por água abaixo. Com certeza, a obrigação dos pais é de guiá-los para que amadureçam, inclusive em situações sociais. São aqueles que passam à prole regras mínimas de conduta para que possam viver com outras pessoas. O que está longe de deixarem de ser eles próprios.

Tudo pode ficar melhor se puderem ver os filhos como pessoas, cujas atitudes não se resumem em provocá-los, que têm vida e desejos próprios. Afinal, quando amamos alguém, amamos o que ele é.


Fonte: G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário