Algumas pessoas são tão exigentes que parecem nunca encontrar algo que realmente as satisfaçam. Criam um código de regras como se fossem universais. Aquilo que pensam e apreciam, nos diversos aspectos da vida, é para elas (e para os outros) o óbvio de como as coisas têm que ser. De tão convictas na defesa de suas idéias, fica difícil questionar a posição que tomam.Entre elas, existem as que se cobram demais. Estão sempre em busca de normas de conduta para auxiliá-las em seus passos na vida, de modo a garantir o bom desempenho naquilo que fazem. Só que ninguém nunca ouviu falar. Elas não existem. Geralmente, são pessoas muito inseguras, que não conseguem ser elas mesmas e fantasiam haver um jeito único de agir nos diferentes momentos da vida. Veem o mundo de maneira estática. No fundo, não confiam nelas próprias, com sua capacidade de resolver problemas e situações no aqui e agora.
Há outras que projetam toda sua rigidez em seus semelhantes. Consideram-se acima de qualquer suspeita. Permitem-se pequenos (e grandes) deslizes, percebidos pelos outros como uma traquinagem inocente de sua parte. Suas desculpas são sempre esfarrapadas – para variar, sempre o outro é o culpado.
É claro que ter um padrão alto para as coisas não é algo necessariamente ruim. Pelo contrário. Isso pode nos impulsionar a ir em frente, crescer, desenvolver, buscar. Mas quando esse comportamento se torna algo exacerbado, pode prejudicar tanto a pessoa em questão quanto aquelas que convivem com ela – principalmente seus familiares.
Pessoas assim estão sempre se frustrando, pois nunca alcançam o ideal, que como o nome diz, existe apenas no plano das idéias. Quando isso se refere à criação dos filhos, as coisas podem se complicar: aquele ser criado por ela, idealizado em todos os sentidos, passa longe do seu plano prévio. É a lembrança constante da imperfeição do mundo e do ser humano. E de si mesma.
Assim, acabam criando o filho impedindo-o de ser ele próprio. Qualquer manifestação de sua humanidade lhe soa como uma provocação. Mesmo que isso seja apenas a expressão de sua felicidade.
Sem espontaneidade
O filho, por sua vez, fica meio perdido em como deve agir. Afinal, não é tarefa simples para ninguém saber o que o outro quer e muito menos deixar de ser o que realmente se é.
Aos poucos, a própria criança ou adolescente começa a achar que não vale muita coisa. Tudo que faz é questionável. Nunca nada está bom.
Com certeza, pais assim agem de modo a querer ajudar os filhos. Desejam que sejam boas pessoas. Só que esse conceito é variável. O que é bom para um pode parecer uma tortura para o outro. Como, por exemplo, permanecer mudo durante um jantar em família.
Quer coisa mais gostosa que uma família, nos dias de hoje, reunir-se para compartilhar uma refeição? As crianças costumam achar isso o máximo e deixam toda sua alegria a vista. Falam, riem, movimentam-se e pouco comem. Para muitos, isso nada mais é que pura falta de educação. A confusão está armada: os pais ralham com os filhos, esses se entristecem e aquele que ia ser um jantar memorável se transforma num momento de infelicidade para todos.
Os pais, por não terem os filhos que esperaram; esses, por sua vez, sentem isso – nunca conseguem agradar os pais. Aos poucos, toda a espontaneidade deles vai por água abaixo. Com certeza, a obrigação dos pais é de guiá-los para que amadureçam, inclusive em situações sociais. São aqueles que passam à prole regras mínimas de conduta para que possam viver com outras pessoas. O que está longe de deixarem de ser eles próprios.
Tudo pode ficar melhor se puderem ver os filhos como pessoas, cujas atitudes não se resumem em provocá-los, que têm vida e desejos próprios. Afinal, quando amamos alguém, amamos o que ele é.
Fonte: G1
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