sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Jesus ou Yehôshua?

Há um grupo de algumas pessoas que tem se levantado para defender o nome hebraico de Jesus alegando que o nome de Jesus é herege e que só há salvação quem proclama o nome de YEHÔSHUA, que é uma grande falta de bom senso. Fazem uma distorção quando empregam versículos como João 1:12 "... deu-lhes o poder de serem feitos filhos do Altíssimo, a saber: aos que creem no seu nome". Usar esse versículo num sentido literal é um absurdo não é o nome propriamente dito que está em jogo e sim a essência e a representação que esse nome exerce sobre nossa  vida. Seja YEHÔSHUA, YESHUA o YAHUSHUA, Quero deixar bem claro que no nome de Jesus muitas pessoas tem encontrado grandes milagres aí esses seguidores podem dizer que são falsos sinais, mas deixa vê o que a Bíblia diz ou como eles chamam santas Escrituras em Mateus 12:26 "Ora, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seus reino?".

Os argumentos usados contra o uso do nome Jesus demonstram desconhecimento da origem deste nome e muita imaginação sem fundamento quanto a sua etimologia. 

Primeiro, a forma latina “Iesus”, que aparece na Vulgata Latina, não foi inventada ou criada por Jerônimo, mas é simplesmente uma transliteração natural do grego Ihsou/j para a escrita latina.

Quanto ao nome grego  Ihsou/j, ele representa a transliteração grega comum do nome hebraico  [;vuwoOhy.(Yehôshua‘ = Josué), ou de sua forma abreviada [;vuy (Yeshua‘ = Jesus). Assim, na Septuaginta (tradução . do Antigo Testamento hebraico para a língua grega), Josué é sempre referido como Ihsou/j (Iesous), o mesmo acontecendo com o nome de Cristo no Novo Testamento grego.

A Septuaginta representa a primeira tradução feita  do Antigo Testamento. Rabinos judeus, no 3º século  a.C., traduziram os escritos do Antigo Testamento (escrito originalmente em hebraico, com algumas porções em aramaico, especialmente no livro de Daniel) para a língua internacional mais falada do mundo de então, o grego.  Os escritos bíblicos assim tornaram-se acessíveis não só aos judeus da Diáspora, que em sua grande maioria não falavam nem entendiam o hebraico nem o aramaico, mas também a todo cidadão do mundo greco-romano de então Os livros do Novo Testamento foram escritos no 1º século A.D., na sua maioria pelos próprios apóstolos de Cristo, ou por pessoas que estavam intimamente ligadas a eles. Ainda que Jesus tenha falado e pregado em aramaico, lido as escrituras em hebraico, e seus discípulos falassem o aramaico, a história dos Evangelhos, do livro de Atos, as cartas de Paulo, Tiago, Pedro, Judas, o Apocalipse de João, foram todos escritos em grego, e todos esses escritos se referem a Cristo como Ihsou/j (Iesous).

Em vista da origem e uso do nome grego Ihsou/j (Iesous), tanto na Septuaginta como no Novo Testamento, é inaceitável, e mesmo um absurdo, a argumentação de que o nome Jesus reflete nomes de deuses pagãos (Júpiter + Esus, para os latinos; Io + Zeus, para os gregos). O autor deste tipo de argumentação desconhece a história da tradução e transmissão do texto bíblico do Antigo Testamento e da composição do texto do Novo Testamento. Foram rabinos judeus, para o Antigo Testamento, e os próprios apóstolos de Cristo, no Novo Testamento, que registraram o nome Ihsou/j (Iesous) no texto bíblico, seguindo as normas linguísticas comuns de transliteração de um nome hebraico para o vernáculo grego. Quando se lê o Novo Testamento em sua língua original, pode-se ver claramente que Paulo, por exemplo, pregava a Palavra de Deus em grego através de boa parte do império romano de então, proclamando a salvação, tanto a judeus como a gentios, em nome de Ihsou/j (Iesous). Seria um absurdo acreditar que Paulo não sabia o que ele estava fazendo, ou que intencionalmente ele estaria referindo-se a deusa Io e a Zeus, blasfemando assim do Messias de Israel e Redentor do mundo.

A etimologia forçada do nome de Jesus, ligando-O a deuses pagãos, não só representa falta de conhecimento da parte daqueles que a formularam, mas aparenta ser o resultado de um esforço preconcebido, deliberado, de encontrar nomes da antiga mitologia greco-romana que pudessem ser combinados, de qualquer jeito, para dar a impressão de que o nome Jesus tem uma origem pagã. Os erros e o modo forçado como os argumentos são apresentados chegam a ser aberrantes. Por exemplo: Por que J representaria Júpiter? Porque desconectar o J da vogal “e” que o segue? Aparentemente para poder ter o nome Esus, o nome de um deus da mitologia celta. Este nome parece ser particularmente atraente pelo fato de ser citado na literatura romana, pelo poeta Lucano, em ligação com dois outros deuses celtas (Teutates e Taranis) dando a impressão de um trindade pagã.

No entanto, um estudo sobre a religião celta e seu relacionamento com a religião e mitologia romanas mostra a fragilidade dessa argumentação. Primeiro, os três deuses celtas citados acima, eram alguns dos mais importantes deuses da religião celta, mas não eram os únicos. O maior e mais importante deus era Lugus e no panteão celta aparece referência a cerca de 400 nomes de diferentes deuses. Assim, a noção de uma trindade pagã adorada pelos celtas e aceita posteriormente pelos romanos é uma ideia que não tem fundamento. Segundo, à medida que os romanos conquistavam novos territórios, eles identificavam seus deuses com os deuses locais, facilitando assim o sincretismo religioso e a aceitação da religião romana pelos povos conquistados. É muito discutível, no entanto, o quanto a crença em Esus, um dos deuses dos celtas, influenciou a mitologia romana. Em verdade, só se sabe que alguns escritores romanos o identificaram com Mercúrio, mas não se pode afirmar que em Roma Esus passou a ser adorado como um deus. Terceiro, a identificação de Esus com Mercúrio (que segundo a mitologia greco-romana era o mensageiro dos deuses, o deus do comércio e da eloquência) não dá apoio algum à argumentação de que Esus era considerado pelos romanos como “o terrível Esus”, o deus dos trovões, do raio e da tempestade. Essas características pertenciam a Júpiter (ou Zeus para os gregos) e não a Mercúrio, e o poeta romano Lucano identificou o deus celta Taranis com Júpiter e não com Esus.

Sem fundamento são as sugestões de que o nome Ihsou/j (Iesous) provém da fusão do nome da deusa Io (a amada de Zeus) com o nome de Zeus, por parte dos gregos, ou que o nome Jesus corresponderia ao hebraico sWsy. (Ye = Deus + Sus = “cavalo”), e que teria sido criado pelos bispos romanos para blasfemar o nome do redentor e o nome de Deus. Como visto acima, o nome Ihsou/j (Iesous) é a transliteração grega normal do nome hebraico [;vuwoOhy.. (Yehôshua‘ = Josué), ou de sua forma abreviada [;vuy. (Yeshua‘ = Jesus). O som de “sh” da letra hebraica v (shin) é sempre transliterado em grego por um s (sigma). Assim, por exemplo, o hebraico hv,m (Moshê) é transliterado em grego por Mwushj (Moysés), de onde vem a forma latina Moisés. O sigma no final do nome Ihsou/j (Iesous) é uma característica natural de certos nomes masculinos em grego (indicando o caso nominativo, a forma básica do nome; o mesmo ocorre com o nome Moisés).  Dizer que sWsy. (Yesus) é o correspondente hebraico de Jesus é desconhecer as línguas bíblicas e a maneira como nomes hebraicos foram traduzidos para o grego na antiguidade.

Além disso, os argumentos usados contra o nome Jesus demonstram ignorância do fato de que esse nome aparece abundantemente na literatura judaica desde o 3º século a.C. até a época de Cristo e dos apóstolos. O historiador judeu Flávio Josefo (35-100 A.D.), por exemplo, faz referência a pelo menos 19 personagens judeus que em sua época tinham o nome Ihsou/j (Iesous). Assim, o nome Jesus nada tem a ver com uma criação dos bispos de Roma, por volta do 4º século A.D., misturando nomes de deuses romanos, celtas, gregos, ou adicionando a palavra hebraica para cavalo ao nome de Deus, a fim de blasfemar contra Redentor e contra Deus. Este nome já existia há pelo menos 600 anos no meio judaico quando Jerônimo (347-420 A.D.) preparou sua tradução da Bíblia para latim, conhecida como a Vulgata.

Ademais, pode-se perguntar se o nome hebraico, ou aramaico, de Jesus teria sido Yehôshua ([;vuwohy),. se Ele teria sido chamado pela forma abreviada Yeshua [;vuy). As duas formas são totalmente plausíveis, no texto da Septuaginta tanto a forma Yehôshua‘ (que quer dizer YHWH é salvação) como Yeshua‘ (que simplesmente significa “salvação”) são transliteradas como Ihsou/j (Iesous). No entanto, deve-se notar que a forma abreviada [;vuy. (Yeshua‘) parece terse tornado a forma mais comum do nome após o exílio babilônico. Já no texto bíblico, por exemplo em Neemias 8:17, o nome de Josué aparece como [;vuy. (Yeshua‘) em vez de [;vuwohy. (Yehôshua‘). Referência é feita a um certo Yeshua‘,filho de Jozadaque, em Esdras 5:2. A forma abreviada Yeshua‘ é abundantemente atestada nos ossuários judaicos do 1º século A.D. encontrados nos arredores de Jerusalém, e em Leontópolis e Tel el-Yehudieh, no Egito.

Tudo isso parece indicar que, nos dias de Jesus, a forma mais usada e popular do nome seria Yeshua‘, e que este teria sido o nome de Jesus, em vez da forma mais arcaica Yehoshua‘.

 O texto do Novo Testamento parece indicar isso também, especialmente através do jogo de palavras que aparece nos textos da anunciação e dos cânticos registrados por Lucas, no seu evangelho. Se o anjo Gabriel anunciou a Maria que o nome do Redentor, que estava para nascer, seria Yeshua‘ (Lc 1:31), que quer dizer “Salvação,” esse nome então aparece repetidas vezes nos cânticos registrados nos primeiros capítulos de Lucas. Assim, por exemplo, quando Zacarias canta em Lucas 1:68-79, nos versos 76-77, ele teria pronunciado o nome de Jesus ao dizer: “Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-Lhe os caminhos, para dar ao Seu povo o  conhecimento de Yeshua‘ (‘Salvação’), no redimi-lo dos seus pecados.” Simeão, também, ao tomar Jesus nos braços, teria dito: “Agora, Senhor, despedes em paz teu servo, segundo Tua palavra; porque meus olhos já viram o Teu Yeshua‘ (‘Salvação’), o qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel” (Lc 2:29-32). O mesmo jogo de palavras parece estar por detrás do texto de Mateus 1:21, onde o anjo do Senhor disse a José: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Yeshua‘ (‘Salvação’), porque Ele salvará o seu povo dos pecados deles.”

A questão da letra "J"

É verdade que o j não existe no hebraico, grego e latim. Como, então, aparece essa letra em nomes bíblicos em quase todas as línguas com as quais estamos familiarizados? Porque todas as Bíblias trazem Jeremias, Jacó, Jersusalém, Judá sendo que não existia o J em hebraico? O que aconteceu foi o seguinte: os judeus da Dispersão, empenhados em traduzir as escrituras hebraicas para o grego (a Septuaginta), não encontraram nessa língua uma consoante que correspondesse ao yodh do hebraico, e a solução foi recorrer à vogal grega iota, que corresponde ao nosso i. Então escreveram Ieremias, começando com i, e assim por diante, inclusive Iesous. No hebraico a letra y yud representa tanto o som vogal i como a consoante y. O mesmo acontecia com o latim com as letras i e u. O emprego das letras j e v para representar i e u consonânticos ocorreu na época do Renascimento, foi difundido por Pierre de la Ramée, também conhecido como Petrus Ramus. Foi filósofo francês, reformador da lógica aristotélica, aderiu à reforma protestante em 1561. Morto no massacre que se seguiu à noite de são Bartolomeu. Escreveu instituições dialéticas (1543) e Contra Aristóteles (1543). A expressão "letra Ramista", ficou sendo uma designação comum dada às consoantes j e v, em homenagem a ele, que primeiro as distinguiu das vogais i e u em textos franceses.(©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.) Por isso lemos Jerusalém, e não Yerushalayim; Jeremias, e não Yeremiahu; Jonas, e não Yonah; Joaquim, e não Yehoiacin; e assim por diante. Há tempos, especialistas em hebraico são unânimes em transliterar palavras que começam com a letra hebraica yod (a letra inicial de Yehoshuah), ora com "i" (ou "y"), no caso de substantivos comuns, ora com "j", no caso de nomes próprios. Uma rápida consulta a qualquer léxico, analítico ou gramática de hebraico bíblico confirma esta afirmação.

Fonte: Revista Teológica do SALT-IAENE, 1999:1 

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