Estamos iniciando mais um trimestre, e, desta feita, teremos a
oportunidade de estudar a Epístola de
Paulo aos crentes de Corinto. Embora essa carta tenha mais de 2000 anos,
seu teor continua atual para a igreja. Os temas abordados admoestam quanto aos
problemas que a igreja contemporânea enfrenta ainda hoje: falta de espiritualidade e compromisso com a
Palavra de Deus, ausência da pregação da mensagem da cruz, partidarismos na
igreja, imoralidade sexual, demandas judiciais entre os irmãos, desconsideração
do casamento, pouca atenção à celebração da Santa Ceia, descuido quanto ao uso
dos dons espirituais, falta de esperança quanto à ressurreição, carência de
cuidados para com os irmãos mais necessitados, e, por fim, tudo isso se traduz
no pouco cultivo do amor ágape. No estudo desta semana, a primeira do
trimestre, trataremos a respeito da falta de espiritualidade genuinamente
cristã da igreja de Corinto.
1. CORINTO: A CIDADE E A I EPÍSTOLA DE PAULO: Corinto era
uma esplêndida cidade comercial localizada ao sul do istmo de dezesseis
quilômetros de largura que liga a Grécia central ao Peloponeso. O grego era a
língua falada pelo povo e a cultura grega da qual o povo se orgulhava. O
imperador Augusto fez de Corinto a capital da Acaia, que era governada por um
procônsul (At. 18.12). Sua situação era de prosperidade o que atraiu grande
multidão. No sudoeste da cidade antiga encontrava-se o monte Acrocorinto, numa
altura de 574 metros, no qual fora construído um templo dedicado a Afrodite, a
deusa do amor. Por isso, a cidade tinha uma
moral pagã, corrupta, pautada no culto ao sexo. As competições também
eram bastante comuns, não admira que Paulo tenha feito alusão aos prêmios dos
atletas (I Co. 9.25). Paulo reconheceu nesse lugar um ponto estratégico para a
difusão do evangelho. O Apóstolo chegou ali durante sua segunda viagem
missionária, por volta de 50 d. C. Logo após a chegada, conheceu Áquila, um
judeu nascido na província romana de Ponto, ao norte da Ásia Menor, e sua
esposa Priscila (At. 18.2; I Co. 16.19). Após um ano e meio naquela cidade,
Paulo partiu para outras missões, e, estando em Éfeso, durante sua terceira
viagem missionária, escreveu uma epístola aos crentes de Corinto, que não nos
chegou (I Co. 5.9) na qual ele aconselhava a evitar o companheirismo com
pessoas imorais. Posteriormente, por volta do ano 55 d. C., Paulo escreveu uma
outra carta aos crentes de Corinto, ainda Éfeso, a qual denominamos de Primeira
Epístola aos Corintios.
2. UMA IGREJA FERVOROSA, MAS SEM
ESPIRITUALIDADE: A igreja de Corinto era fervorosa, isto é, tinha os
dons espirituais (I Co. 1.7), mas faltava-lhe a verdadeira espiritualidade, por
isso, Paulo aqueles irmãos de carnais (I Co. 3.1-4). Semelhantemente a Igreja
de Corinto, muitas igrejas atuais se encontram na mesma condição de muito
fervor, mas de pouca ou nenhuma espiritualidade. Buscam os dons espirituais,
falam muitas línguas, profetizam em todos os cultos, mas quando as pessoas saem
da igreja, não dão um bom testemunho de fé professam dentro das quatro paredes
do templo. Falta a esses crentes fervorosos o fruto da espiritualidade, pois é
justamente através dos frutos que somos identificados como cristãos, não pelos
dons espirituais (Mt. 5.13-16; 7.22). Os dons espirituais não refletem o nível
de espiritualidade do cristão, na verdade, alguém pode ter dons espirituais, como
acontecia com a igreja de Corinto, e mesmo assim não ser espiritual, agindo
como meninos na fé (I Co. 14.20). Isso acontece porque os dons espirituais, em
determinados contextos eclesiásticos, é visto individualmente, ou seja, não
lhes é dado o valor coletivo que devam ter. Segundo Paulo, em I Co.
14.3-5,12,26, os dons são dádivas para
a igreja, para o desenvolvimento, crescimento e amadurecimento do corpo de
Cristo, não para alguém ostentar grandeza diante dos outros.
3. O CULTIVO DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ NA
IGREJA: O contrário das obras da carne, uma característica
dos crentes de Corinto, é o fruto do Espírito (Gl. 5.22) e nele repousa a
verdadeira espiritualidade (v. 19). A base do fruto é o amor – ágape - (I Co.
13; Rm. 5.5; Ef. 5.2; Cl. 3.14), sendo este o sustentáculo dos demais elementos
do fruto, os quais são: alegria – chara
– baseada nas promessas e na presença de Deus (II Co. 6.10; 12.9; I Pe. 1.8); a paz – eirene – quietude de coração e
mente fundamentada em Cristo (Rm. 15.33; Fp. 4.7; I Ts. 5.23; Hb. 13.20); a longanimidade – makrothumia – que não
se ira com facilidade ou não se desespera diante das adversidades (Ef. 4.2; II
Tm. 3.10; Hb. 12.1); benignidade –
chrestotes – indisposição para magoar os outros (Ef. 4.35; Cl. 3.12; I
Pe. 2.3); bondade – agathosune –
expressa em atos de bondade (Lc. 7.3-50); fé – pistis – confiança constante e inabalável na Palavra de Deus
(Mt. 23.23; Rm. 3.3; I Tm. 6.12; II Tm. 2.2; 4.7; Tt. 2.10); mansidão – prautes – moderação para
submeter-se a Deus e ao próximo (II Tm. 2.25; I Pe. 3.15); e temperança – agkrateia – domínio
sobre os impulsos e paixões, disposição para a pureza (I Co. 7.9; Tt. 1.8;
2.5).
CONCLUSÃO: Muitas
igrejas são fervorosas – isto é – têm os dons espirituais, em algumas outras,
até mesmo os dons já se foram. Para evitar tais extremos, o caminho bíblico é o
do equilíbrio, não podemos desprezar os dons, mas é preciso, também, saber que
eles, por si sós, não garantem espiritualidade. Uma igreja genuinamente
espiritual busca, além dos dons, o fruto do Espírito. Uma igreja que busca
apenas os dons pode acabar como a de Corinto, com muitos dons (I Co. 1.9), mas
cheia de problemas e carnalidades (I Co. 3.1-4). O equilíbrio entre fervor e
espiritualidade está no contato contínuo com o Espírito Santo, o qual produz em
nós, e conosco, o Seu fruto (Gl. 5.22).
Fonte: Estudos
Bíblicos